Desafios contemporâneos do marketing político
Desafios contemporâneos do marketing político
Felipe Soutello
A lógica binária, o pulso elétrico - desligado e ligado, 0 ou 1, transbordou de forma acachapante no território da política. Ou se é uma coisa, ou se é outra. Direita ou esquerda. Sim ou não. Verdadeiro ou falso. Mas será que vida, a humanidade é tão limitada assim para ficar presa nessa dicotomia tão simplista?
Essa pergunta é estrutural nos dias de hoje. E na política ela ganha dimensões extremamente preocupantes pois, da forma como a polarização vem se calcificando (expressão utilizada pelo sociólogo brasileiro Felipe Nunes), o resultado tem sido a interdição do debate.
O principal valor e instrumento da arte da política é a conversa, o diálogo entre diferentes, o debate para desaguar na construção de consensos. A construção de novos consensos sociais é, a meu ver, o objetivo central da democracia. E isso está ameaçado pelo mundo todo. Estamos, como sociedade, mais focados na destruição, na interdição, na rejeição ao outro do que colocando energia para perceber o que nós temos em comum, no que concordamos, no que podemos realizar juntos. Está faltando valorizar de verdade a democracia. Para isso é decisivo ter uma educação democrática, para entende-la como um valor fundamental e compreender que a democracia não está dada, que depende de construção todos os dias.
Evoco para fundamentar meu argumento a memória de dois grandes homens. Duas perdas recentes e profundas para a América Latina. O uruguaio José Mujica, um homem de esquerda, ex-presidente do Uruguai, preso político por 12 anos, vivendo em condições sub-humanas, enfrentando um cárcere de uma dureza extrema. Nunca deixou que o rancor tomasse conta de seu coração e comprometesse sua ação.
O peruano Mário Vargas Lhosa, escritor ganhador do Prêmio Nobel em 2010, político liberal, chegou a ser candidato a Presidente do seu país. Um homem que dominava as palavras, que deixou um legado literário e posicionamentos importantes.
Ambos defensores intransigentes da democracia. Ambos lutadores contra regimes autoritários e herméticos. É possível gostar dos dois. Admirá-los, conhecer suas visões de mundo, incorporar seus conhecimentos e sobretudo respeitá-los, reconhecendo o valor dos dois, independente do que pensemos, e que tenhamos posições diferentes dos dois. Essa é a beleza da política. Essa é a riqueza da democracia.
Por que, em pleno século XXI, vivendo em um país ocidental, depois de testemunharmos a tristeza de diversos regimes totalitários pelo mundo, à direita e à esquerda, estamos aceitando argumentos e lideranças que não tem como essência da sua militância e proselitismo a defesa absolutamente intransigente da democracia?
Evidente que a polarização sempre existiu. E mais, no nosso sistema eleitoral majoritário com dois turnos, ela é potencializada e estimulada em grande medida. Mas o problema é que tudo extravasou. Saiu fora da arena política e chegou na casa da gente, em nossas famílias e nos amigos. O cancelamento passou a ser protagonista. Ao invés de valorizarmos a tolerância e inclusão, estamos excluindo para não ter que conviver. Eliminamos a diferença. Passamos a agir como magistrados morais, nos julgando superiores aos outros e não tolerando que pensem e ajam diferentes de nós. O que nos incomoda não serve. É um simplismo atroz e, em grande parte, nós, profissionais de comunicação política, temos de assumir nossas responsabilidades. Toda vez que somente pensamos estritamente na performance em detrimento do conteúdo da política, que recomendamos aos nossos clientes um vídeo viral cujo objetivo seja somente performar, estamos colaborando em grande medida para a agudização do quadro.
Aqui há um desafio: grande parte do nosso trabalho é a redução das mensagens para partidos temáticos que consigam conquistar corações e mentes, mas a exagerada simplificação da política – é simples, meus adversários é que não querem fazer, ou ainda a deturpação da lógica necessária de gerar atenção pela pura pregação de polêmicas per si, somente porque a contundência é privilegiada na distribuição pelo algoritmo que estão contribuindo, e muito, para que o clima não melhore.
É sempre importante reforçar: política não é marketing, política não é comunicação.
Por evidente, são ações absolutamente interdependentes, ainda mais nessa quadra da história, em que as atividades estão cada vez mais intrincadas. Comunicar é um ato político em si. Fazer política é em grande parte comunicar. Mas comunicação é meio e forma: uma expressão da política. É seu veículo mais poderoso de propagação. Mas a política vai além da comunicação.
Política é uma ciência, uma arte - uma atividade essencialmente humana, que define como a sociedade se organiza, como resolve coletivamente seus conflitos e interesse, como distribui o poder, como transforma a vida das pessoas e do planeta.
Nosso trabalho é de facilitar esse processo, de ajudar nossos clientes. A política como um todo, é se aproximar do eleitor. É construir identificação e estabelecer um diálogo com a sociedade. É construir empatia entre os políticos e os eleitores. É oferecer argumentos para ajudar a dar racionalidade e razões para o voto e ajudar a construir consentimento social para que nossos clientes – os políticos consigam sair vitoriosos das urnas e, o mais importante, consigam ter governabilidade assegurada.
Em resumo: estratégia. Somos assessores. Um papel importantíssimo, decisivo, sempre bom afirmar – político que não conta com um time de profissionais de comunicação e marketing não tem mais espaço. Mas a política deve ser valorizada e preservada. Não pode ser diminuída a simples comunicação. Como exemplo, há um significativo número de gabinetes parlamentares que se transformaram apenas em bureaus criativos e/ou produtoras de vídeos virais, apostando somente em posicionamentos e/ou distribuição de desinformação.
Uma provocação: somos efetivamente profissionais de consultoria e marketing político ou somos profissionais de marketing à serviço de políticos? Parece o mesmo, mas não é. Essa é a reflexão que tenho feito e tentado, ao menos, criar justificativas políticas para minhas decisões.
Não há problema algum estar enquadrado em uma dessas categorias, ou mesmo divergir dos conceitos que proponho, nenhuma recriminação de minha parte. Mas tenho convicção que a política precisa urgentemente de profissionais que tenham mais identidade com os políticos e partidos para os quais trabalhem. Há um limite ao que se deve aceitar fazer e representar. O mercado já é grande o suficiente para possamos refletir e fazer nossas escolhas para atuar dentro de princípios que dignifiquem nossa atuação e valorizem nossa atividade. Como sempre afirmo: ao final a política deve prevalecer.
Voltou-se a falar muito de esquerda e direita. Um certo anacronismo.
No momento em que os problemas do mundo são, sobremaneira, de natureza ambiental, onde a ciência projeta danos coletivos irreparáveis, estamos agudizando conceitos oriundos da Revolução Industrial.
É importante voltar até a Revolução Francesa para entender, de forma breve, o surgimento dos conceitos. Afinal, o que é ser de direita? O que é ser de esquerda? Estar à direita do presidente da mesa da Assembleia Nacional Francesa era defender os direitos do Rei sobre a constituição. Estar à esquerda era defender a submissão do Rei a constituição e, posteriormente, ser defensor da República. Uma questão apenas simbólica de localização no espaço de uma assembleia onde se juntavam pessoas que pensavam de forma parecida. Imaginem se os grupos tivessem simplesmente trocado de lado. O que chamamos de direita seria esquerda e o que chamamos de esquerda seria direita.
Na verdade, esses conceitos são, em grande medida, elásticos e variam muito de país para país. Algo que pode ser considerado de esquerda em um lugar pode ser de direita em outro.
Trago como exemplo a questão antivacinas que tem comportamentos muito cambiáveis. Aqui mesmo no Brasil, a esquerda já foi antivacina nos idos de 1900, com os sindicatos se opondo a vacinação obrigatória e mesmo forçada dos tempos da Revolta da Vacina.
Apesar de importantes para ajudar as pessoas a delimitarem certa visão de mundo, os conceitos em si, esquerda e direita, a meu ver são muito limitados para definir as pessoas e estão sendo usados a esmo, somente para criar e potencializar preconceitos e rejeição uns aos outros.
Precisamos urgentemente de um debate mais profundo e valorizado. Política é trabalhosa, não é das coisas mais divertidas da vida, não é simples – problemas complexos exigem soluções complexas, não existe solução simples para questões complexas. A comunicação política tem muito a contribuir com isso.
Nossa atividade está passando por transformações profundas, sobretudo em aspectos de forma e da maneira de como o discurso é distribuído e como deve se construir relevância.
As redes sociais trouxeram um novo paradigma no trabalho. Mas eu sou voz divergente na lógica que mudou a forma de fazer campanha. Eu não vejo diferença. Acho que mudaram os veículos e aumentou potencialmente a interação entre representantes e representados. Ganhamos um enorme instrumento potencializador da mensagem e da construção de imagem: para o bem e para o mal.
Cito apenas dois aspectos a título de ilustração. Vejo como grande malefício das redes sociais a lógica de fortalecimento exagerado do personalismo. A lógica do influenciador transbordada para a política. Se de um lado, democratiza de alguma maneira o aceso, de outro vem tornando a política mais dispersa e com maior dificuldade de construção de novos consensos. Se somarmos isso a questão das emendas parlamentares temos um caldo muito ruim para o sistema democrático brasileiro. Na prática, temos 513 partidos na Câmara Federal. Cada deputado individualmente é um ente em si. Fora a forma de atuação de alguns grupos atuando como verdadeiros “partidos” digitais sem o serem efetivamente. Uma colisão, em parte, com as cláusulas de barreira que a legislação estabeleceu para tentar diminuir o número de partidos. A governabilidade está colocada em xeque e democracia representativa lastreada em partidos políticos desconfigurada. É preciso que a arena política seja transparente, clara e de conhecimento público. Nesse sentido, independentemente de divergências políticas de fundo ideológica e de forma de atuação, muitas vezes lastreada no constrangimento e uso duvidoso da imagem de terceiros, vejo a tentativa do MBL – Movimento Brasil Livre de se converter em partido efetivo, o Missão, uma iniciativa louvável e corajosa.
O aspecto positivo que quero destacar é que há efetivamente mais gente participando do debate. Isso é muito bom. Mas as condições de como esse debate ocorre e quais são as regras de como essa nova arena política pode se tornar mais adequada para a construção de novos consensos carece de maior reflexão.
Eu sempre tenho a impressão de que vamos olhar para trás em breve e achar tudo isso que estamos vivendo agora uma espécie de pintura rupestre da forma como usamos a internet e, sobretudo, as redes sociais. Oxalá não demore muito a esse dia chegar.
As novas tecnologias têm imposto muitos desafios à sociedade. Mas há uma contradição latente e, por isso, quero fazer uma provocação adicional.
A Inteligência Artificial, não é questão de discorrer sobre ela em si pois, primeiro não sou propriamente um especialista, sou um usuário assim como todos nós que estamos usando-a em nosso cotidiano. Minha questão é outra: quais serão os limites que vamos estabelecer para o uso da IA na política e na comunicação política?
Evidente, ainda estamos muito no começo dessa revolução e ninguém tem uma ideia muito segura de onde tudo isso vai desembocar. A ficção cientifica, em grande medida, tem sido nosso guia e, portanto, não há como não ficar ao menos preocupado. Confesso um certo pessimismo no diagnóstico. Me preocupa sobremaneira a exclusão ainda maior e a descartabilidade das pessoas diante de tudo isso. Há uma certa apatia geral nas pessoas, sobretudo nos mais jovens diante de tantas comodidades e facilidades. Não há quem saiba o trajeto para casa sem um o uso de um Maps ou Waze. Não há quem compreenda bem as complexidades por de trás de tudo isso, pois a dimensão do usuário é somente o clique.
Estamos assistindo uma transferência de processamento cognitivo orgânico, efetuado pelos nossos cérebros, mas o que será que vamos e estamos colocando no lugar nos nossos HD’s orgânicos? Pelas pesquisas mais recentes, nada. Majoritariamente estamos ficando mais dependentes dos oráculos virtuais e desmotivando o aprendizado. Se tudo está ao toque dos dedos por que nos esforçarmos para aprendermos? É ao contrário, ao que parece. Quem tiver mais resiliência no desenvolvimento cognitivo e no “treinamento” cerebral terá mais vantagens no uso das inteligências artificiais.
Estamos assistindo à cultura de massas chegar no seu auge, com trends e modismos ditando regras em curtíssimo espaço. Quisemos ficar livres dos comerciais que interrompiam a programação das TV’s abertas, mas nunca estivemos tão bombardeados por propaganda como agora. Tudo é recomendação, tudo é patrocinado.
Há epidemias de doenças mentais. Em certa medida, há um sentimento de que a insegurança tem vencido a esperança no futuro. Os indicadores econômicos mundiais vêm apontando que, as próximas gerações, poderão usufruir de menos prosperidade do que seus pais. Mas, não há dúvidas que vivemos em um mundo de maior comodidade e conveniência. No nosso campo de trabalho sabemos que é isso que o eleitor quer cada vez mais. Não é à toa que governos e políticos que provem identidade, intimidade, conveniência e serviço digitais associados a comunicação direta conseguem ter um desempenho muito melhor.
A atividade política é essencialmente humana - reafirmamos mais uma vez, e aqui proponho mais uma reflexão: não podemos permitir que a I.A. domine esse espaço de atividade humana – simplesmente não podemos!
Na política, não podemos admitir que a I.A. substitua as pessoas. Deixem-me esclarecer isso: não é um discurso contra a utilização de ferramentas, pelo contrário. Como não permitir aos nossos clientes possam encontrar a melhor curva de investimento em distribuição de conteúdo utilizando apoio das ferramentas? Claro que temos de usar e em várias áreas do conhecimento, produtos e serviços. Mas, na minha visão - mais radical mesmo, reconheço -, é preciso vetar a participação de personagens não humanos na comunicação política, especialmente, nas eleições. Se a política se abrir para a intervenção de elementos não humanos estaremos perdidos em pouco tempo.
Deixando claro: isso não significa não usar I.A. no governo, nas políticas públicas, na construção de block chains, na prestação de contas, no audiovisual, etc... Defendo que não se use em nenhuma hipótese I.A. na comunicação política em si – ela deve estar limitada aos candidatos, seus prepostos e aos eleitores apoiadores. A política deve ser reservada para humanos e assim deve se preservar. Sou conservador nesse sentido. E, as regras de controle e punição para o uso negativo de todas essas ferramentas devem merecer tratamento mais rigoroso da lei e do TSE.
Muito em breve, isso não é mais uma distopia, teremos de criar uma separação na própria Constituição Federal para diferenciar claramente direitos humanos de direitos de robôs, I.A., bots, etc... O debate público já está por demais contaminado pela presença desses elementos. Vejam por exemplo as pesquisas elaboradas pelo MIT - Instituto de Tecnologia de Massachusetts, que o Prof. Yuval Noah Harari faz referência no seu último livro “Nexus”, demonstrando que quase metade das interações e debate público na plataforma X é provocado por bots. Esse novo tratamento constitucional, por exemplo, ajudaria muito nas decisões ligadas a liberdade de expressão. Máquinas não tem liberdade de expressão e, portanto, perfis não humanos podem ser excluídos sem cerimônia.
Liberdade é direito humano inerente a condição humana. Ponto. Está ficando cada vez mais claro que temos de refletir sobre um novo direito, no capítulo de garantias fundamentais dos cidadãos que é o direito à realidade. Saber claramente se algo é real ou se é construído por máquinas será definitivo. A distopia orweliana vai em grande medida se tornando nossa realidade.
Mas, para além de elementos ligados à tecnologia, há questões mais objetivas que são desafios para o marketing político atual. Transparência e financiamento.
Nosso setor foi muito estigmatizado, sobretudo depois da crise do mensalão. Marqueteiro virou palavrão e sinônimo de escândalos e malversações. Uma generalização muito injusta e indevida. Houve muitos avanços legislativos e de governança, como o financiamento público. Na minha visão uma grande conquista democrática brasileira, e com os sistemas de prestação de contas do TSE – Tribunal Superior Eleitoral. Isso, em tese, diminui muito o espaço para os recursos ilegais. Há, inclusive, uma iniciativa por parte da CGU – Controladoria Geral da União, chamada Pacto Brasil, que é um convite para empresas de qualquer porte aderirem a regras e procedimentos de governança corporativa. Tudo muito simples e objetivo.
Nós que manejamos recursos oriundos de fundos públicos, orçamento público – nos parlamentos e poder executivo, deveríamos aderir em massa a esse compromisso e tornar no setor cada vez mais forte e protegido. Nós fazemos um trabalho muito sério, que deve ser respeitado e valorizado socialmente, mas temos de fazer nossa parte.
De outro lado, temos de lutar para evitar os calotes reiterados que ainda acontecem, infelizmente, com muita frequência nas campanhas eleitorais. Isso ocorre, em grande medida, porque o TSE ainda não estabeleceu um modelo de compromisso efetivo com as despesas assumidas durante o curso da campanha pelos candidatos e partidos. É preciso impedir que se assumam compromissos para além da capacidade pagamento. É preciso garantir que as campanhas sejam efetivamente responsáveis nos compromissos que assumem e que os partidos sejam solidários aos compromissos que seus representantes assumem com o mercado de fornecimento. Essa é uma medida urgente e decisiva para a credibilidade do sistema partidário e eleitoral brasileiro. Se um político e um partido não cumprem seus compromissos durante a campanha, o que dizer de sua atuação no exercício do poder. Essa é uma medida de reforma eleitoral mais do que desejável: urgente. A lei, hoje, torna impossível, na prática, a execução inclusive de sentenças judiciais com ganho de causa pois, impede o bloqueio e sequestro de recursos partidários. O calote é institucionalizado e isso precisa mudar.
Ao invés de focar em mudanças, como essas, que deixariam o nosso sistema eleitoral mais consistente e forte, estamos assistindo o Congresso Nacional propor uma medida de grande risco democrático.
Foi aprovada recentemente na CCJ – Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal – a PEC – Proposta de Emenda Constitucional de número 12 proposta em 2022, que a despeito de discutir o fim da reeleição para os cargos de Presidente, Governadores e Prefeitos, propõem adicionalmente a extensão de mandato para 5 anos e a unificação das eleições de todos os cargos em apenas um único pleito. Nada contra o Congresso Nacional debater esse tema que é da sua integral competência, mas isso é prioridade. A população parece discordar.
Recente pesquisa realizada pelo Instituto DataFolha deixou claro que os eleitores são contra ambas as modificações. Aliás, na prática a população tem apoiado a reeleição, haja vista os índices superiores a 80% de reeleição no último pleito de 2024. O mais perigoso de tudo é que enfiaram nessa discussão a lógica da unificação das eleições. Pode parecer a um desavisado uma mudança positiva pois dá impressão de ser mais eficiente e mais econômico. Mas esses argumentos são falaciosos. O custo da atenção se amplia muito quando a disputa por espaço fica mais competitiva. As plataformas multinacionais já carrearam mais de R$ 300 milhões de reais nas últimas eleições, sendo disparados o maior beneficiário do fundo eleitoral – valores já próximos com a compensação fiscal das rádios e tv’s abertas. A Justiça já não consegue acompanhar e julgar os casos das eleições como realizamos hoje, decidindo inúmeras questões após os resultados. Imaginem se o eleitor for votar em 7 ou 8 cargos simultâneos? O eventual ganho logístico seria mais que suplantado pelos custos operacionais e administrativos da própria Justiça. Sempre lembrando que a Justiça já custa hoje 2/3 da despesa com eleições e partidos no Brasil. A polarização seria potencializada, pois tudo viraria time de um contra o time do outro. O debate ficaria ainda mais reduzido e empastelado.
Em um mundo em transformação cada vez mais acelerado, fazer o eleitor se encontrar com as urnas duas vezes apenas em uma década seria postergar demais as mudanças e conter demais a pressão da sociedade em corrigir seus destinos. Mas, o mais importante, a proposta de unificação afronta o federalismo e a renovação política necessária que parte dos municípios. A proposta sufoca o debate local. Reduz a escuta. Favorece por demais os grandes. Enfraquece a pluralidade. Nós sabemos a consequência. Precisamos dizer não! Precisamos defender a política em ciclos curtos. Nenhuma democracia moderna e relevante adota esse modelo, ao contrário, existem outros mecanismos de
check and balance, como o voto de recall. Somos uma democracia jovem, ainda em consolidação, precisamos ir mais vezes e constantemente as urnas. Precisamos transformar o voto em uma conquista permanente e definitiva, isso se faz votando.
São muitos os desafios contemporâneos para o marketing político, mas nosso mercado é crescente, precisa ampliar sua capacitação e força. É preciso reconhecer nosso papel e importância relativa e trabalhar para valorizar a política como instrumento fundamental para a sociedade. Fortalecendo o debate e a troca de ideias. E ajudando a sempre lembrar que adversário não é inimigo e que eleição não é guerra. Juntos podemos construir uma democracia mais forte e que seja valorizada e defendida pela população. Cada um deve assumir suas responsabilidades.
Vamos continuar defendendo a política - como valor, como missão, como atividade fundamental para o futuro da sociedade.

